Tubeless no MTB: Vantagens, Desvantagens e Como Fazer a Conversão

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A evolução dos pneus no mountain bike e o surgimento do sistema tubeless

O mountain bike é uma das modalidades mais dinâmicas do ciclismo, exigindo equipamentos que ofereçam performance, durabilidade e adaptação a terrenos extremamente variados. Entre os diversos avanços tecnológicos que marcaram a história da MTB, um dos mais significativos nas últimas décadas foi o surgimento e popularização do sistema tubeless, ou sem câmara de ar. Embora esse conceito já existisse em veículos automotivos há bastante tempo, sua aplicação nas bicicletas, especialmente nas mountain bikes, trouxe uma série de benefícios que conquistaram tanto atletas profissionais quanto ciclistas amadores.

Tradicionalmente, as bicicletas utilizavam pneus com câmara de ar, um sistema simples e funcional, mas que apresentava algumas limitações — principalmente em relação à resistência a furos e à capacidade de rodar com pressões mais baixas sem riscos. O sistema tubeless surgiu como uma alternativa promissora, eliminando a câmara de ar e selando o pneu diretamente no aro, com o auxílio de um líquido selante que atua tanto na vedação quanto na prevenção de furos.

Nos últimos anos, o sistema tubeless tem ganhado espaço nas trilhas, competições e até mesmo entre os ciclistas recreativos. Ele permite uma pedalada mais eficiente, com menor risco de furos, maior tração e controle, especialmente em terrenos técnicos, rochosos ou molhados. Mas, como qualquer solução, o tubeless não é perfeito: existem também desvantagens que precisam ser consideradas, como o custo, a manutenção e o processo de instalação que pode intimidar os menos experientes.

Neste post, vamos explorar a fundo o sistema tubeless no mountain bike: entender o que é, quais são as vantagens reais e os pontos negativos, como fazer a conversão da sua bike, e quais cuidados tomar para garantir um bom desempenho e durabilidade. Se você está pensando em abandonar as câmaras de ar e investir em uma nova experiência sobre duas rodas, este guia completo vai te ajudar a tomar a melhor decisão possível.

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O que é o sistema tubeless no mountain bike?

O sistema tubeless consiste basicamente em montar o pneu diretamente no aro, sem a presença da câmara de ar interna, como é tradicionalmente feito. Em vez disso, um líquido selante é adicionado ao pneu, com a função de vedar pequenos furos automaticamente e manter a vedação entre o pneu e o aro.

Esse sistema exige componentes compatíveis, como:

  • Aros tubeless ready (ou adaptados com fitas apropriadas);
  • Pneus tubeless ou tubeless ready;
  • Válvulas específicas com base de borracha para vedação;
  • Selante líquido à base de látex ou outras substâncias selantes.

A principal vantagem do tubeless está em sua capacidade de rodar com pressões mais baixas, o que aumenta a tração e o conforto, e em sua resistência superior a pequenos furos causados por espinhos, pedras ou cacos de vidro — problemas comuns nas trilhas.


Vantagens do sistema tubeless no MTB

1. Menor risco de furos

Uma das grandes dores de cabeça para quem pratica MTB é o constante risco de furos. No sistema com câmara, qualquer espinho ou objeto cortante pode perfurar facilmente a câmara de ar, exigindo paradas para troca ou remendo.

No tubeless, o líquido selante entra em ação assim que o furo acontece. O selante preenche o buraco e, em poucos segundos, o pneu volta a segurar o ar normalmente, sem que o ciclista precise sequer descer da bike na maioria das vezes.

2. Pressão mais baixa, mais tração

No MTB, a aderência dos pneus ao solo faz toda a diferença. Com o sistema tubeless, é possível usar pressões mais baixas sem o risco de ocorrer um “snake bite” (corte da câmara causado pelo aro em batidas fortes).

Menos pressão = mais área de contato do pneu com o solo = mais tração.

Em subidas técnicas, curvas fechadas, terrenos escorregadios ou trilhas com muita pedra solta, essa tração extra é extremamente benéfica.

3. Mais conforto

Pressões mais baixas também se traduzem em maior absorção de impactos. Isso significa que o ciclista sente menos os solavancos do terreno, tornando o pedal mais confortável — especialmente em trilhas longas ou trechos muito acidentados.

4. Menor peso rotacional

Ao eliminar a câmara de ar, há uma redução no peso rotacional da roda. Isso pode parecer pequeno, mas qualquer redução no peso das rodas impacta diretamente no desempenho, já que essa é a parte da bike que mais exige energia para girar.

Com menos peso nas rodas, a bike ganha em aceleração e resposta, especialmente útil em provas de XC (cross-country).

5. Menos manutenção em trilha

Furos são resolvidos automaticamente pelo selante. Isso significa menos paradas, menos trocas de câmara e menos perda de tempo durante o pedal.


Desvantagens do sistema tubeless

1. Custo inicial mais alto

Para fazer a conversão ao tubeless, você precisará de:

  • Pneus tubeless ou tubeless ready;
  • Selante;
  • Fitas de vedação;
  • Válvulas específicas.

Esse conjunto pode sair bem mais caro do que simplesmente comprar uma câmara de ar nova. Além disso, manter um estoque de selante e eventualmente trocar a fita ou a válvula aumenta o custo de manutenção.

2. Montagem pode ser trabalhosa

Fazer a montagem de um sistema tubeless pela primeira vez pode ser complicado:

  • É preciso vedar perfeitamente o aro;
  • Assentar o pneu corretamente no aro exige, às vezes, compressor de ar ou bombas específicas de alta vazão;
  • Pode haver vazamento de selante ou dificuldade em vedar alguns pneus/aros.

3. Manutenção periódica do selante

O líquido selante não dura para sempre. Em geral, ele seca ou perde eficácia em 3 a 6 meses (dependendo do clima). Isso significa que você precisa abrir o pneu, limpar o resíduo e adicionar novo selante com regularidade.

4. Furos maiores ou rasgos ainda exigem intervenção

Embora o selante funcione muito bem em furos pequenos (de espinhos ou pregos), ele não dá conta de rasgos laterais maiores ou cortes profundos. Nestes casos, ainda será necessário usar um macarrão de reparo (plugs) ou até mesmo instalar uma câmara emergencial.

5. Aros e pneus incompatíveis

Nem todos os aros e pneus são compatíveis com tubeless. Mesmo os modelos “tubeless ready” podem não vedar perfeitamente em algumas combinações, exigindo mais cuidado na escolha das marcas e modelos.


Como fazer a conversão para tubeless no MTB: passo a passo completo

Materiais necessários:

  • Pneus tubeless ou tubeless ready;
  • Aros tubeless ready (ou adaptados com fita apropriada);
  • Fita de vedação (fita tubeless específica);
  • Válvulas tubeless com núcleo removível;
  • Selante líquido;
  • Bomba de alta vazão ou compressor de ar;
  • Espátulas de pneu (de plástico);
  • Pano limpo, álcool isopropílico, e recipiente para manusear o selante.

Passo 1: Verifique a compatibilidade dos componentes

Antes de iniciar a montagem, verifique:

  • Se os aros são tubeless ready, ou se será necessário adaptá-los com fita;
  • Se os pneus são compatíveis com tubeless;
  • Se as válvulas se encaixam bem e vedam corretamente.

A combinação entre pneu e aro deve ser justa, mas não impossível de encaixar — se estiver muito solta ou muito apertada, pode causar vazamentos ou dificultar a montagem.

Passo 2: Preparação dos aros

  • Remova a fita antiga (caso haja);
  • Limpe bem o interior do aro com pano e álcool;
  • Aplique a nova fita tubeless, sobrepondo cerca de 10 a 15 cm no final;
  • Pressione bem com os dedos ou uma espátula para garantir a adesão da fita nas laterais internas;
  • Faça um pequeno furo com uma agulha ou prego onde a válvula será instalada.

Passo 3: Instalação da válvula

  • Insira a válvula tubeless no orifício;
  • Aperte com a porca externa até fixar bem;
  • Certifique-se de que a borracha da base da válvula está bem vedada na fita.

Passo 4: Colocação do pneu

  • Monte o pneu parcialmente no aro;
  • Antes de fechar totalmente, despeje a quantidade indicada de selante (normalmente entre 60 e 100 ml);
  • Finalize a montagem do pneu no aro com cuidado.

Passo 5: Inflar e vedar

  • Use uma bomba de alta vazão ou compressor para inflar rapidamente;
  • O objetivo é “assentar” o pneu nas bordas do aro — você ouvirá alguns estalos durante esse processo;
  • Gire e balance o pneu para espalhar o selante pelas paredes internas;
  • Verifique se há vazamentos de ar/selante nos cantos e reforce a vedação se necessário.

Passo 6: Ajuste da pressão e teste

  • Depois de vedado, ajuste a pressão ideal (geralmente entre 20 e 30 PSI no MTB, dependendo do seu peso, terreno e preferência);
  • Deixe a bike parada por algumas horas e vá girando a roda ocasionalmente para garantir a vedação completa;
  • Após 24 horas, confira se a pressão se manteve — se não, pode haver pequenos vazamentos que precisam de correção.

Manutenção e cuidados com o sistema tubeless

Caso vá deixar a bike parada por muito tempo, retire o selante e guarde os pneus desmontados para evitar que grudem ou ressequem.

  • Verifique o selante a cada 3 meses. Se estiver seco ou com aparência de grumos, troque;
  • Mantenha sempre um kit de reparo com plugs (macarrão) durante os pedais;
  • Faça inspeções visuais nos pneus em busca de cortes ou rasgos;

Dicas finais e boas práticas

  • Use selantes de qualidade (como Stan’s, Orange Seal, Notubes, etc.);
  • Nunca use fita isolante comum no lugar da fita tubeless — ela não veda corretamente;
  • Ao viajar, leve sempre uma câmara reserva — é o plano B em caso de falha do sistema tubeless;
  • Faça a revisão da válvula e do bico regularmente, pois podem acumular resíduos de selante e obstruir a passagem de ar;
  • Treine a montagem e desmontagem em casa antes de precisar fazer isso no meio da trilha.

Vale a pena adotar o sistema tubeless no MTB?

Depois de explorar a fundo o universo do sistema tubeless no mountain bike, fica evidente que essa tecnologia oferece uma série de vantagens significativas para ciclistas que buscam mais eficiência, segurança e liberdade nos trilhos. A possibilidade de rodar com pressões mais baixas sem o risco de snake bites, a resistência a furos pequenos e o desempenho otimizado em terrenos técnicos são fatores que tornam o tubeless altamente atrativo, especialmente para quem pedala com frequência em trilhas mais desafiadoras.

Por outro lado, é importante reconhecer que o sistema não é isento de desvantagens. O processo de conversão pode exigir um investimento inicial em materiais específicos como selante, fita, válvulas e, em alguns casos, um novo par de rodas compatíveis. Além disso, a manutenção preventiva – como a reposição periódica do selante e a checagem do estado do pneu e da vedação – exige mais atenção do que o sistema com câmara. Para alguns ciclistas casuais ou iniciantes, esse cuidado extra pode parecer um obstáculo.

No entanto, para quem se dedica ao mountain bike como esporte, hobby ou até estilo de vida, o ganho em desempenho e a redução de dores de cabeça com furos frequentes acabam compensando. É uma solução que não apenas acompanha a evolução do MTB moderno, mas que também contribui para uma pedalada mais fluida, ágil e confiante. Em competições, o tubeless já é padrão, e no uso recreativo mais intenso, tende a ser uma escolha natural com o tempo.

Se você ainda está em dúvida sobre migrar para o sistema tubeless, vale a pena experimentar. A conversão pode ser feita em casa, com paciência e atenção aos detalhes, ou em uma oficina especializada, caso prefira contar com ajuda profissional. É fundamental seguir o passo a passo corretamente e testar o sistema antes de sair para uma trilha mais longa. Também é recomendado carregar sempre um kit de reparo específico para tubeless, além de uma câmara de ar de emergência, especialmente em pedais mais remotos.

Em última análise, a decisão de adotar o tubeless deve considerar o seu perfil de ciclista, o tipo de terreno que você enfrenta com mais frequência e o quanto está disposto a investir em melhoria de performance e confiabilidade. Para muitos praticantes de MTB, o tubeless representa um divisor de águas: depois que se acostumam, dificilmente voltam ao sistema tradicional com câmara.

Portanto, se você busca menos furos, mais tração, melhor controle da bike e liberdade para pedalar com pressão ideal em qualquer terreno, o tubeless pode ser exatamente o que está faltando para você aproveitar ainda mais cada trilha. Faça a conversão com consciência, mantenha a manutenção em dia e desfrute dos benefícios que essa tecnologia pode trazer ao seu pedal.

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