muito além do tênis — o papel das sapatilhas no mountain bike
Se você está começando no mountain bike ou já pedala há algum tempo, é provável que em algum momento tenha se deparado com a seguinte dúvida: será que vale a pena investir em uma sapatilha própria para trilhas? E, se sim, qual modelo escolher diante de tantas opções disponíveis no mercado? Este tipo de questionamento é extremamente comum entre ciclistas de todos os níveis, e por um bom motivo: as sapatilhas de MTB não são apenas um acessório — elas influenciam diretamente o desempenho, a segurança e o conforto durante a pedalada.
Diferentemente dos tênis comuns ou mesmo de sapatilhas de ciclismo voltadas para o asfalto, os modelos desenvolvidos para mountain bike precisam atender a exigências específicas do terreno e do estilo de pilotagem. Estamos falando de calçados que precisam oferecer boa tração ao caminhar, resistência ao desgaste, facilidade para desclipar em terrenos técnicos, além de um encaixe firme no pedal — tudo isso sem abrir mão do conforto necessário para longas horas de uso. Não à toa, escolher a sapatilha certa pode significar a diferença entre uma trilha divertida e um passeio frustrante, cheio de desconfortos e dificuldades técnicas.
Com a popularização do pedal clipado no MTB, especialmente entre os praticantes de trilhas e all-mountain, as sapatilhas se tornaram praticamente uma extensão do ciclista. No entanto, nem todo mundo precisa — ou deve — sair correndo para comprar o modelo mais caro do mercado. Cada tipo de trilha, estilo de pilotagem, nível de experiência e até tipo de pedal exige um tipo de sapatilha com características específicas.
Neste post, vamos explorar todos os aspectos que envolvem a escolha da sapatilha ideal para trilhas de MTB. Desde a diferença entre os tipos de solado, materiais, sistemas de fechamento e compatibilidade com pedais, até recomendações práticas para quem está começando ou quer evoluir no pedal técnico. Se você está em dúvida sobre qual modelo comprar, quer entender o que realmente muda entre as opções e como cada detalhe influencia na sua performance, este guia é para você.

1 – Por que usar sapatilha no MTB: vantagens reais para trilhas
A sapatilha para mountain bike vai muito além da estética esportiva. Ela é uma ferramenta funcional que pode melhorar sua pedalada em diversos aspectos. Aqui estão as principais vantagens de usar sapatilhas em trilhas:
1.1 Eficiência de pedalada
O principal ganho está na transferência de potência. Com uma sapatilha clipada (encaixada no pedal), você aplica força não apenas na descida do pedal, mas também na subida, aproveitando todo o giro. Isso gera mais eficiência e reduz o desgaste ao longo da trilha.
1.2 Controle da bike
Em trilhas técnicas, especialmente em subidas íngremes, raízes, pedras soltas ou single tracks estreitos, estar conectado ao pedal oferece mais controle da bicicleta. Sua bike reage de forma mais direta aos movimentos do corpo.
1.3 Estabilidade e segurança
Sapatilhas de MTB são desenhadas para segurar o pé no lugar certo. Isso evita que ele escorregue em trechos acidentados e ajuda a manter o equilíbrio mesmo em situações extremas.
1.4 Caminhada em terrenos difíceis
Ao contrário das sapatilhas de estrada, os modelos para MTB têm solado com cravos e borracha aderente, permitindo caminhar em terrenos com barro, cascalho, raízes ou trechos íngremes. Isso é fundamental em trilhas onde o “empurra bike” é necessário.
2 – Entendendo os tipos de sapatilha para MTB
No mundo do mountain bike, há uma grande variedade de sapatilhas, cada uma com suas especificidades. A escolha correta vai depender do seu estilo de pedal, do terreno e do tipo de pedal que você utiliza.
2.1 Sapatilhas clipadas (com encaixe SPD)
São as mais populares entre ciclistas que buscam desempenho, controle e eficiência na pedalada. Utilizam o sistema SPD (Shimano Pedaling Dynamics), em que a sapatilha se encaixa ao pedal por meio de uma presilha metálica (taco) instalada na sola.
Vantagens:
- Melhor transferência de potência
- Controle mais preciso da bike
- Segurança em trilhas técnicas
- Solado com cravos para caminhar
Desvantagens:
- Exigem tempo de adaptação
- Podem causar quedas no início
- Requerem limpeza constante (lama, terra)
2.2 Sapatilhas para plataforma (sem clip)
São modelos que lembram um tênis reforçado, com solado mais rígido que um calçado comum, mas sem o sistema de clip. São usados com pedais plataforma.
Vantagens:
- Ideal para quem está começando
- Mais conforto ao caminhar
- Possibilidade de descer da bike com facilidade
Desvantagens:
- Menor eficiência de pedalada
- Pé pode escorregar em terrenos irregulares
- Menos controle da bike em trilhas técnicas
2.3 Sapatilhas híbridas
Alguns modelos oferecem a versatilidade de funcionar tanto clipados quanto em plataforma, com solado que permite caminhar confortavelmente e também prender no pedal SPD. São ótimos para quem pedala em trilhas mistas ou faz bikepacking.
3 – Clipado vs Plataforma: impacto na escolha da sapatilha
A decisão entre pedalar clipado ou com plataforma influencia diretamente o tipo de sapatilha ideal para você. Vamos analisar os principais fatores:
3.1 Estilo de pilotagem
Se você faz trilhas técnicas, com muitos obstáculos, subidas fortes e exige mais do corpo e da bike, o pedal clipado e uma boa sapatilha SPD vão te dar mais controle e eficiência.
Já se o seu estilo é mais recreativo, com trilhas leves, ou se você ainda está desenvolvendo técnica e confiança, a plataforma pode ser mais indicada.
3.2 Nível de experiência
Iniciantes costumam ter receio de usar sapatilhas clipadas — com razão, já que prender os pés à bike sem prática pode causar quedas. Mas com treino e paciência, os benefícios compensam. Muitos ciclistas iniciam com plataforma e migram para o clipado ao ganhar confiança.
3.3 Tipo de terreno
Trilhas com muita lama, trechos de empurra-bike ou necessidade constante de descer da bike podem exigir mais da sola da sapatilha. Neste caso, modelos com solado aderente e boa tração são fundamentais — sejam clipados ou não.
4 – Solado, entressola e aderência: o que observar?
O solado é uma das partes mais importantes da sapatilha para MTB. Ele influencia tanto na pedalada quanto na sua performance fora da bike, ao caminhar.
4.1 Rigidez do solado
Quanto mais rígido, maior a eficiência da pedalada. Porém, solados muito rígidos dificultam a caminhada e podem ser desconfortáveis para iniciantes.
Para quem está começando: modelos com rigidez moderada são ideais.
Para XC ou trail: solados mais rígidos, com reforço em fibra de vidro ou carbono, otimizam o desempenho.
4.2 Cravos e aderência
Modelos para MTB devem ter cravos na sola, geralmente de borracha, para permitir boa tração fora da bike. Em trilhas escorregadias ou com obstáculos, isso faz toda a diferença.
Algumas marcas usam compostos próprios de borracha para melhorar a aderência ao pedal plataforma (caso da Five Ten, por exemplo).
4.3 Entressola
Algumas sapatilhas oferecem entressola acolchoada para maior conforto. Isso pode ser interessante para quem faz trilhas longas, bikepacking ou pedala por várias horas.
5 – Sistema de fechamento: cadarço, velcro, catraca ou BOA?
O sistema de fechamento influencia tanto no ajuste quanto na segurança e praticidade da sapatilha. Veja as opções mais comuns:
5.1 Cadarço
Clássico e simples, oferece bom ajuste, mas não é prático para ajustar durante o pedal. Além disso, cadarços soltos podem prender no pedal.
5.2 Velcro
Comum em modelos intermediários, o velcro é prático e leve. Muitas sapatilhas combinam dois ou três pontos de velcro com outros sistemas de ajuste.
5.3 Catraca
Permite ajuste mais preciso e seguro. Comum em sapatilhas de alto desempenho. É confiável, mas pode pesar um pouco mais.
5.4 Sistema BOA
Tecnologia que utiliza discos de rotação para microajustes. Rápido, moderno e extremamente eficaz. Presente em modelos premium, com custo mais alto.
6 – Compatibilidade com pedais: o padrão SPD e variações
6.1 SPD (Shimano Pedaling Dynamics)
É o sistema mais usado no MTB. Simples, confiável e presente em praticamente todas as marcas de sapatilhas e pedais off-road. O taco é pequeno e embutido no solado, facilitando a caminhada.
6.2 SPD-SL (estrada)
Não confundir com SPD-SL, usado em bikes de estrada. O SPD-SL tem tacos maiores e não é adequado para caminhar ou usar em trilhas.
6.3 Outras marcas (Crankbrothers, Time, Look)
Outros sistemas também existem, como Crankbrothers (Eggbeater e Candy), Time ATAC, entre outros. São alternativas válidas, mas exigem atenção na hora de escolher sapatilha e pedal compatíveis.
7 – Dicas para iniciantes: como se adaptar ao uso da sapatilha
Começar a pedalar clipado pode causar insegurança, especialmente em trilhas com obstáculos. Veja algumas dicas para uma transição mais tranquila:
7.1 Comece em terrenos planos
Treine o movimento de encaixar e desencaixar em locais sem obstáculos. Repita até se tornar automático.
7.2 Ajuste a tensão do pedal
A maioria dos pedais clipados tem regulagem de tensão. Deixe mais leve no início para facilitar o desencaixe.
7.3 Antecipe movimentos
Em trilhas, tente prever quando será necessário desclipar. Faça isso com antecedência para evitar quedas.
7.4 Use meias apropriadas
Evite bolhas e desconfortos com meias específicas para ciclismo, que reduzem atrito e mantêm os pés secos.
8 – Modelos recomendados por perfil de ciclista
Escolher a sapatilha ideal depende diretamente do seu perfil como ciclista, tipo de trilha que percorre e até dos objetivos com o pedal. Abaixo, listamos algumas recomendações com base nesses perfis:
8.1 Iniciantes no MTB (trilhas leves ou mistas)
Características ideais:
- Boa ventilação.
- Solado com cravos de borracha.
- Sistema de fechamento simples (velcro ou cadarço).
- Compatível com SPD.
Sugestões de modelos:
- Shimano XC100 ou ME100
- Giro Ranger
- Northwave Origin
- Fizik Terra Powerstrap X4
Esses modelos oferecem um equilíbrio interessante entre conforto e funcionalidade, permitindo que o ciclista iniciante ganhe segurança antes de investir em sapatilhas mais avançadas.
8.2 Trilhas técnicas / nível intermediário
Características ideais:
- Boa tração para caminhar.
- Reforços laterais contra impactos.
- Sistema de fechamento mais firme (cadarço + velcro, BOA ou catraca).
- Solado com rigidez média.
Sugestões de modelos:
- Shimano ME5 ou XC3
- Giro Cylinder II
- Specialized Recon 2.0
- Scott MTB Comp BOA
Essas sapatilhas se adaptam bem a situações variadas, oferecendo boa performance sem sacrificar conforto. Ideais para quem já tem prática em trilhas com raízes, pedras e subidas mais exigentes.
8.3 Enduro, All-Mountain e Downhill
Características ideais:
- Solado robusto e tratorado.
- Materiais resistentes a abrasão.
- Alta proteção contra impactos.
- Compatível com pedal plataforma ou clipado com maior liberdade de movimento.
Sugestões de modelos:
- Five Ten Freerider Pro (flat)
- Shimano AM9
- Giro Chamber II
- Ride Concepts Powerline
Esses modelos são focados em proteção e tração, ideais para quem pedala em trilhas agressivas, faz saltos, drops e desce ladeiras técnicas com velocidade.
8.4 Cicloturismo e bikepacking com foco off-road
Características ideais:
- Conforto para longas horas.
- Solado com boa tração e flexibilidade.
- Facilidade para caminhar.
- Durabilidade.
Sugestões de modelos:
- Shimano XM9 (bota impermeável)
- Northwave Rockit Plus
- Pearl Izumi X-Alp Summit
- Giro Rumble VR
Essas sapatilhas são perfeitas para quem passa o dia na bike e, muitas vezes, precisa caminhar com a bike em terrenos acidentados. Também são ótimas para quem acampa ou viaja com a bicicleta.
9 – Cuidados, manutenção e vida útil da sapatilha
Investir em uma boa sapatilha também exige cuidados para que o equipamento dure e continue oferecendo o desempenho esperado.
9.1 Limpeza
- Limpe após trilhas com barro, usando uma escova e água (sem pressão).
- Evite deixar lama secar totalmente, pois danifica os materiais.
- Não lave na máquina.
9.2 Secagem
- Se molhar, retire a palmilha e deixe secar na sombra, em local ventilado.
- Evite sol direto e fontes de calor como secadores ou fornos, que deformam o material.
9.3 Revisão dos taquinhos
- Verifique o desgaste dos taquinhos regularmente. Taquinhos gastos dificultam o encaixe e o desencaixe, além de prejudicar o desempenho.
- Substitua quando notar folgas, ferrugem ou dificuldade de clipar.
9.4 Armazenamento
- Guarde em local seco e arejado.
- Evite deixar em bolsas ou caixas fechadas após pedais úmidos.
9.5 Vida útil
- Em média, uma sapatilha de MTB bem cuidada pode durar entre 2 a 4 anos, dependendo da intensidade de uso.
- O solado é o primeiro a dar sinais de desgaste, especialmente em modelos usados em trilhas técnicas com muita caminhada.
vale a pena investir? Quando e como fazer a transição
Investir em uma sapatilha específica para MTB é uma decisão que transforma a experiência de pedalar em trilhas. A sensação de controle sobre a bicicleta, a eficiência na pedalada e a segurança em terrenos acidentados são benefícios que, uma vez experimentados, dificilmente são deixados de lado.
No entanto, o mais importante é respeitar o seu ritmo de evolução como ciclista. Se você está começando, não precisa partir diretamente para um modelo de alto desempenho. Uma sapatilha confortável, com bom grip, que permita a adaptação ao sistema clipado já será um salto de qualidade enorme em relação ao uso de tênis comuns.
A transição para o pedal clipado pode assustar no início, especialmente pelo medo de quedas ao não conseguir desclipar a tempo. Mas isso faz parte do processo de aprendizado, e com treino e prática, rapidamente se torna algo natural. O ganho em eficiência e controle compensa qualquer tropeço no começo.
Escolher a sapatilha ideal é entender o seu estilo de pedal, os desafios das trilhas que percorre e o que você espera da sua evolução no MTB. Com as informações deste post, você já tem uma base sólida para tomar uma decisão consciente e, acima de tudo, segura.
Seja para conquistar novos picos, encarar trilhas técnicas, aumentar a performance ou apenas se sentir mais confortável pedalando, a sapatilha certa é uma aliada poderosa.
Boas pedaladas — e que seus pés estejam sempre bem encaixados nos seus objetivos!


Olá! Eu sou Otto Bianchi, um apaixonado por bicicletas e ciclista assíduo, sempre em busca de novas aventuras sobre duas rodas. Para mim, o ciclismo vai muito além de um esporte ou meio de transporte – é um estilo de vida. Gosto de explorar diferentes terrenos, testar novas bikes e acessórios, além de me aprofundar na mecânica e nas inovações do mundo do pedal. Aqui no site, compartilho minhas experiências, dicas e descobertas para ajudar você a aproveitar ao máximo cada pedalada. Seja bem-vindo e bora pedalar!






