O continente perfeito para o espírito gravel
Se existe um lugar no mundo feito sob medida para a bicicleta gravel, esse lugar é a América do Sul. O continente sul-americano combina natureza selvagem, diversidade de terrenos, cultura vibrante e vastidão geográfica com milhares de quilômetros de estradas de terra, cascalho, trilhas antigas e caminhos coloniais. Essas características fazem da região um paraíso ainda subexplorado para os amantes do ciclismo de aventura e, principalmente, do universo gravel.
Enquanto na Europa ou nos Estados Unidos a gravel vem ganhando popularidade com eventos, circuitos e estruturas comerciais, aqui na América do Sul a experiência tem um sabor mais autêntico e bruto. As rotas são menos mapeadas, mais imprevisíveis e exigem do ciclista não apenas preparo físico, mas também um espírito aventureiro. Justamente por isso, pedalar de gravel por aqui é tão recompensador.
No Brasil, estradas de terra atravessam vales coloniais, regiões de mata atlântica, cerrado e sertão. Na Argentina, o visual é moldado por pampas e paisagens andinas. O Chile oferece travessias espetaculares entre desertos e lagos. A Colômbia, o Peru e o Equador surpreendem com altitudes elevadas, montanhas inóspitas e hospitalidade única. São rotas onde a cultura local se mistura com a experiência da pedalada, gerando vivências profundas e transformadoras.
Este guia é um convite a quem já possui uma gravel ou está planejando investir nessa modalidade. Vamos listar 20 rotas incríveis — 10 no Brasil e 10 distribuídas por outros países da América do Sul — que vão do bikepacking leve de fim de semana até travessias mais longas e desafiadoras. Para cada uma, incluiremos sugestões de distância, altimetria, tipo de terreno, melhor época para pedalar, pontos de apoio e atrativos pelo caminho.
Prepare-se para expandir seus horizontes, ajustar a pressão dos pneus e mergulhar de vez na liberdade que só uma gravel é capaz de proporcionar. O Brasil e a América do Sul estão prontos para serem explorados. E você?

O que torna uma rota ideal para gravel?
Uma boa rota de gravel combina três ingredientes fundamentais: diversidade de terreno, isolamento moderado e contato com a natureza. Diferente do ciclismo de estrada, onde o asfalto e a regularidade são a prioridade, ou do mountain bike, onde o objetivo muitas vezes é a superação técnica, o gravel procura um equilíbrio. O ideal é encontrar estradas de terra compactada, trechos de cascalho, subidas desafiadoras e descidas com adrenalina controlada, tudo isso com pouco tráfego de veículos motorizados.
Outro fator importante é a conectividade. Uma boa rota gravel pode alternar vilarejos, pequenas cidades ou zonas rurais com pontos de apoio razoáveis, como pousadas simples, mercearias e fontes de água. Isso permite ao ciclista viajar leve, sem depender de um esquema pesado de bikepacking ou logística elaborada.
A altimetria também entra no jogo: percursos com subidas longas e progressivas são ideais, desde que não exijam técnicas de escalada como no MTB extremo. A recompensa vem com mirantes, paisagens naturais e uma sensação constante de descoberta. Por fim, a rota ideal estimula um ritmo contemplativo, valorizando o trajeto tanto quanto o destino.
Nos próximos tópicos, você encontrará 20 sugestões que se encaixam perfeitamente nesse espírito.
Top 10 rotas de gravel no Brasil
1. Estrada Real (Minas Gerais – RJ)
- Distância: Varia entre 300 km a mais de 1.000 km, dependendo do trecho escolhido
- Altimetria acumulada: Até 20.000 m nos trechos mais longos
- Tipo de terreno: Estradas de terra batida, cascalho, trechos de paralelepípedo e pequenas áreas asfaltadas
- Melhor época: Entre maio e setembro (estação seca)
- Pontos de apoio: Diversas cidades históricas com estrutura hoteleira e alimentação
- Destaques: Ouro Preto, Tiradentes, São João del-Rei, Paraty. Riqueza histórica, cultura mineira, paisagens de serra e hospitalidade calorosa.
Pedalar pela Estrada Real é como atravessar um capítulo vivo da história do Brasil. Criada originalmente como rota de escoamento do ouro no período colonial, hoje ela representa uma das mais completas experiências gravel do país. São centenas de quilômetros conectando cidades históricas, paisagens montanhosas e comunidades tradicionais. Para quem busca uma viagem com conteúdo cultural e desafio físico, é um prato cheio.
2. Rota dos Cânions (RS – SC)
- Distância: Aproximadamente 220 km (ida e volta)
- Altimetria acumulada: Cerca de 3.800 m
- Tipo de terreno: Terra batida, cascalho solto, trechos com erosão leve
- Melhor época: Outono e primavera
- Pontos de apoio: Cambará do Sul, Praia Grande e pequenas comunidades rurais
- Destaques: Cânion Itaimbezinho, Fortaleza, Aparados da Serra, clima de montanha, visuais épicos
Essa rota é um verdadeiro cartão-postal do sul do Brasil. A travessia entre os estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina revela cânions gigantescos, campos de altitude e florestas preservadas. Ideal para quem deseja um fim de semana intenso e panorâmico, com subidas desafiadoras e descidas emocionantes.
3. Caminho dos Anjos (MG)
- Distância: Aproximadamente 230 km
- Altimetria acumulada: Cerca de 5.000 m
- Tipo de terreno: Estradas de terra batida, subidas longas e cascalho
- Melhor época: Maio a setembro
- Pontos de apoio: Aiuruoca, Alagoa, Baependi, Seritinga, entre outros vilarejos
- Destaques: Pico do Papagaio, cachoeiras, natureza preservada da Serra da Mantiqueira
Essa rota alterna esforço físico intenso com espiritualidade e conexão com a natureza. É comum encontrar outros peregrinos a pé ou em bicicleta. Os visuais da Mantiqueira são de tirar o fôlego — literalmente e metaforicamente.
4. Chapada Diamantina (BA)
- Distância: Variável, entre 150 km e 300 km em rotas circulares ou travessias
- Altimetria acumulada: 2.500 a 6.000 m
- Tipo de terreno: Cascalho, terra seca, subidas técnicas
- Melhor época: Junho a setembro
- Pontos de apoio: Lençóis, Mucugê, Vale do Capão, Igatu
- Destaques: Cachoeiras, vales profundos, cultura local riquíssima
A Chapada oferece diversidade de terrenos e altitudes, passando por antigas trilhas garimpeiras, vales rochosos e campos abertos. É uma das experiências mais viscerais do gravel brasileiro.
5. Vale Europeu (SC)
- Distância: Aproximadamente 300 km (circuito completo)
- Altimetria acumulada: Cerca de 6.000 m
- Tipo de terreno: Estradas rurais de terra, cascalho, trechos asfaltados curtos
- Melhor época: Abril a setembro
- Pontos de apoio: Pomerode, Timbó, Doutor Pedrinho, Rodeio, e outros
- Destaques: Cultura germânica, paisagens rurais bem cuidadas, excelente estrutura de apoio
O Vale Europeu é uma das rotas mais bem organizadas para cicloturismo no Brasil — e perfeita para gravel. A mistura de cultura europeia, relevo acidentado e infraestrutura faz deste circuito uma opção ideal para quem busca conforto e beleza natural na mesma medida.
6. Caminho da Fé (SP – MG)
- Distância: De 300 km a 1.200 km, dependendo da rota escolhida
- Altimetria acumulada: Pode ultrapassar 20.000 m no percurso completo
- Tipo de terreno: Estradas de terra, trilhas, cascalhos, subidas íngremes
- Melhor época: Inverno (maio a agosto)
- Pontos de apoio: Vários — o trajeto passa por dezenas de cidades e vilarejos
- Destaques: Peregrinação, paisagens serranas, desafio físico e emocional
Inspirado no Caminho de Santiago, o Caminho da Fé conecta diversas cidades paulistas e mineiras até Aparecida (SP). Exige resistência e preparo físico, mas proporciona experiências intensas de superação e conexão interior. Ideal para quem quer testar seus limites.
7. Serra do Cipó e região de Lapinha (MG)
- Distância: Aproximadamente 180 km em rotas circulares
- Altimetria acumulada: 3.000 a 4.000 m
- Tipo de terreno: Cascalho, terra vermelha, travessias rústicas
- Melhor época: Entre maio e agosto
- Pontos de apoio: Santana do Riacho, Lapinha da Serra, vilarejos
- Destaques: Rios cristalinos, paredões rochosos, natureza exuberante
Região pouco explorada e com enorme potencial para o gravel. As paisagens são dignas de cenário cinematográfico e o isolamento é um convite à introspecção. Ideal para quem curte acampamentos selvagens ou pousadas rústicas no meio do mato.
8. Circuito das Araucárias (SC)
- Distância: Aproximadamente 250 km
- Altimetria acumulada: Cerca de 5.000 m
- Tipo de terreno: Estradas de chão batido, subidas longas, cascalho denso
- Melhor época: Entre abril e setembro
- Pontos de apoio: São Bento do Sul, Corupá, Rio Negrinho
- Destaques: Florestas de araucária, clima serrano, cachoeiras e cultura regional
Esse circuito é uma joia escondida da Serra Catarinense, com paisagens de florestas nativas, clima frio e um charme rural singular. Ideal para quem busca isolamento com certo nível de infraestrutura.
9. Serra da Canastra (MG)
- Distância: Aproximadamente 200 a 300 km em trajetos combinados
- Altimetria acumulada: 4.000 a 6.000 m
- Tipo de terreno: Cascalho solto, terra seca, subidas exigentes
- Melhor época: Maio a agosto
- Pontos de apoio: São Roque de Minas, Vargem Bonita, Delfinópolis
- Destaques: Parque Nacional da Serra da Canastra, nascentes do Rio São Francisco, queijos artesanais
Clássico do cicloturismo rústico, a Serra da Canastra oferece subidas desafiadoras, descidas técnicas e uma imersão completa na cultura mineira rural. A natureza é o grande protagonista por aqui.
10. Jalapão (TO)
- Distância: De 200 km a 500 km, conforme a rota
- Altimetria acumulada: 2.000 a 5.000 m
- Tipo de terreno: Areia fofa, cascalho, estradas de terra remotas
- Melhor época: Maio a setembro
- Pontos de apoio: Mateiros, Ponte Alta, São Félix
- Destaques: Dunas douradas, fervedouros, rios cristalinos, paisagens únicas do cerrado
Essa é uma rota para ciclistas experientes e preparados para isolamento, calor e terrenos exigentes. Em contrapartida, oferece uma experiência única no coração do Brasil selvagem — um verdadeiro desafio de superação e beleza.
Top 10 rotas de gravel na América do Sul (fora do Brasil)
11. Carretera Austral (Chile)
- Distância: Aproximadamente 1.200 km (geralmente dividido em etapas)
- Altimetria acumulada: Variável, até 15.000 m em todo o percurso
- Tipo de terreno: Estradas de cascalho, terra batida, trechos de asfalto e trilhas
- Melhor época: Novembro a março (verão austral)
- Pontos de apoio: Coyhaique, Puyuhuapi, Villa O’Higgins, Puerto Tranquilo
- Destaques: Florestas temperadas, geleiras, lagos turquesa, fauna selvagem
A Carretera Austral é uma das rotas mais famosas e espetaculares da América do Sul para gravel. Seu traçado selvagem e isolado oferece desafios técnicos e visuais únicos, atravessando parques nacionais e áreas remotas do sul do Chile.
12. Ruta 40 (Argentina)
- Distância: Mais de 5.000 km no total; trechos gravel são comuns no norte e sul
- Altimetria acumulada: Muito variável, com trechos andinos elevados
- Tipo de terreno: Cascalho, terra batida, asfalto (varia conforme o trecho)
- Melhor época: Outubro a abril
- Pontos de apoio: San Carlos de Bariloche, El Chaltén, Salta, Mendoza
- Destaques: Andes, desertos patagônicos, vinícolas, lagos e geleiras
Essa mítica rota atravessa o país de norte a sul e oferece vários trechos gravel para quem deseja explorar a Argentina profunda. A diversidade de paisagens é enorme, com opções para todos os níveis.
13. Circuito Quilotoa (Equador)
- Distância: Cerca de 140 km em circuito
- Altimetria acumulada: Aproximadamente 4.000 m
- Tipo de terreno: Terra, trilhas de pedra, cascalho
- Melhor época: Junho a setembro
- Pontos de apoio: Latacunga, Zumbahua, Quilotoa
- Destaques: Vulcões, lagoa cristalina da cratera Quilotoa, comunidades indígenas
Este circuito em altitude é para quem busca desafios técnicos e culturais. As vistas do vulcão e da lagoa são de tirar o fôlego, além da experiência com as tradições locais.
14. Camino Inca para bicicletas (Peru)
- Distância: Varia entre 60 km a 120 km, dependendo do trecho
- Altimetria acumulada: Alta, pode passar de 3.500 m
- Tipo de terreno: Trilhas de pedra, terra, e caminhos antigos
- Melhor época: Maio a setembro
- Pontos de apoio: Cusco, Ollantaytambo, Aguas Calientes
- Destaques: Ruínas incas, montanhas andinas, cultura Quechua
O tradicional Camino Inca para trekking pode ser adaptado para gravel e bikepacking com autorização, oferecendo uma experiência histórica e técnica, em meio à majestosa Cordilheira dos Andes.
15. Valle de Cocora e Zona Cafeeira (Colômbia)
- Distância: Roteiros entre 150 a 250 km
- Altimetria acumulada: Até 4.000 m
- Tipo de terreno: Estradas de terra, cascalho e asfalto rural
- Melhor época: Dezembro a março e julho a agosto
- Pontos de apoio: Salento, Manizales, Armenia
- Destaques: Palma de cera, plantações de café, vilarejos coloniais
Essa região é um dos tesouros da Colômbia, famosa pela paisagem de palmeiras gigantes e cultura cafeeira. Perfeita para gravel por estradas pouco movimentadas e clima agradável.
16. Paso de Jama (Chile – Argentina)
- Distância: Aproximadamente 180 km entre San Pedro de Atacama (Chile) e Susques (Argentina)
- Altimetria acumulada: Cerca de 4.000 m
- Tipo de terreno: Terra, cascalho, trecho de asfalto
- Melhor época: Abril a novembro
- Pontos de apoio: San Pedro de Atacama, Susques
- Destaques: Deserto do Atacama, altiplano andino, lagoas altiplânicas
Este passo de fronteira é um desafio para gravelistas que gostam de altitude e paisagens áridas e lunares, com belíssimos visuais do deserto mais seco do mundo.
17. Trilha dos Vulcões (Equador)
- Distância: Cerca de 300 km em circuito
- Altimetria acumulada: Acima de 8.000 m
- Tipo de terreno: Terra, pedra, trilhas de alta montanha
- Melhor época: Junho a setembro
- Pontos de apoio: Quito, Baños, Latacunga
- Destaques: Vulcões ativos, florestas andinas, águas termais
Uma rota para gravelistas experientes que desejam explorar os picos vulcânicos do Equador, misturando pedal e trekking com uma imersão na natureza selvagem.
18. Carretera Panamericana (América do Sul – trecho andino)
- Distância: Varia muito; o trecho para gravel é na região dos Andes, entre 200 a 400 km
- Altimetria acumulada: Elevada, com passagens acima de 4.000 m
- Tipo de terreno: Estradas de cascalho e terra
- Melhor época: Maio a setembro
- Pontos de apoio: Arica (Chile), La Paz (Bolívia), Cusco (Peru)
- Destaques: Altiplano, deserto, paisagens montanhosas dramáticas
O trecho sul da Panamericana oferece uma das experiências mais extremas para gravel na América do Sul, ideal para quem busca altitude e vastidão.
19. Circuito Los Volcanes (Chile)
- Distância: Cerca de 150 a 200 km
- Altimetria acumulada: Cerca de 5.000 m
- Tipo de terreno: Cascalho, terra, trilhas de montanha
- Melhor época: Dezembro a março
- Pontos de apoio: Pucón, Villarrica
- Destaques: Vulcões ativos, lagos, florestas temperadas
Esse circuito é um sonho para amantes de montanha e gravel, com paisagens espetaculares e a possibilidade de contemplar vulcões ativos.
20. Ruta del Che (Argentina – Bolívia)
- Distância: Aproximadamente 400 km
- Altimetria acumulada: Cerca de 6.000 m
- Tipo de terreno: Cascalho, terra, estradas rurais
- Melhor época: Maio a setembro
- Pontos de apoio: Rosario, La Higuera, Vallegrande, Samaipata
- Destaques: História revolucionária, vilarejos autênticos, paisagens andinas
A rota que segue os passos do Che Guevara é uma viagem não só física, mas também histórica e cultural, perfeita para gravelistas que buscam sentido e desafio.


Olá! Eu sou Otto Bianchi, um apaixonado por bicicletas e ciclista assíduo, sempre em busca de novas aventuras sobre duas rodas. Para mim, o ciclismo vai muito além de um esporte ou meio de transporte – é um estilo de vida. Gosto de explorar diferentes terrenos, testar novas bikes e acessórios, além de me aprofundar na mecânica e nas inovações do mundo do pedal. Aqui no site, compartilho minhas experiências, dicas e descobertas para ajudar você a aproveitar ao máximo cada pedalada. Seja bem-vindo e bora pedalar!






