Escolher o guidão certo muda tudo na sua pedalada
Se você está montando sua primeira gravel bike ou pensando em fazer upgrades na sua configuração atual, uma das decisões mais importantes — e frequentemente negligenciadas — é a escolha entre drop bar (guidão curvo, tradicional das bikes de estrada) e flat bar (guidão reto, comum nas mountain bikes). Essa escolha vai muito além da estética ou do que “parece mais gravel”. Na prática, ela muda totalmente a dinâmica da sua pedalada, influencia diretamente o conforto, a dirigibilidade, a performance e até o tipo de terreno onde sua bike se sentirá em casa.
Enquanto o drop bar é amplamente considerado o padrão nas gravel bikes, por sua versatilidade de pegada e melhor eficiência aerodinâmica, o flat bar vem ganhando espaço por oferecer uma posição mais ereta, maior controle em terrenos técnicos e uma curva de aprendizado mais suave para quem vem do MTB. E aqui está o ponto crucial: não existe uma escolha única que sirva para todos os ciclistas. Tudo depende do seu objetivo, da sua experiência, do tipo de trilha que você pretende encarar e até do seu histórico de lesões ou nível de flexibilidade.
Muitos ciclistas iniciam no gravel pensando que o drop bar é obrigatório. Outros preferem a segurança e a firmeza do guidão reto, especialmente em descidas íngremes ou em terrenos com muito cascalho solto, areia ou raízes. Alguns trocam de guidão depois de meses de uso, percebendo que a primeira escolha não se adaptou ao estilo de pedal. Há ainda os que têm duas gravel bikes, uma para performance leve e outra para bikepacking com mais estabilidade.
Neste post completo, vamos comparar de forma prática, detalhada e imparcial os dois tipos de guidão aplicados ao universo gravel. Você vai entender como cada opção impacta:
- A ergonomia e o conforto em longas distâncias;
- A pilotagem em terrenos mistos (terra, asfalto, cascalho, trilha leve);
- A estabilidade com carga (alforjes, mochilas, bolsas);
- A performance, aerodinâmica e postura do ciclista;
- E até mesmo a escalabilidade da bike (upgrades e uso futuro).
Se você está em dúvida entre montar uma gravel com drop bar ou flat bar, ou se quer entender o que muda na prática ao pedalar com cada um, este guia é para você.

O que é o Drop Bar e por que é o mais comum no gravel
1.1 Características do Drop Bar
O drop bar é o guidão curvado que se popularizou com as road bikes (bikes de estrada). Ele oferece múltiplas posições para as mãos:
- Parte superior reta (top bar);
- Alavancas (hoods), onde ficam as manetes;
- Parte inferior curvada (drops), usada para postura mais aerodinâmica.
1.2 Vantagens do drop bar no gravel
- Versatilidade de pegada: permite alternar posições durante pedais longos;
- Melhor aerodinâmica para trechos planos e contra o vento;
- Menor largura: facilita passar por trilhas estreitas e corredores urbanos;
- Mais pontos de apoio para bikepacking (como bolsas de guidão).
1.3 Desvantagens do drop bar
- Curva de aprendizado maior para quem vem do MTB;
- Menor alavanca de controle em terrenos técnicos;
- Menor facilidade para freadas rápidas em situações off-road.
2 – O que é o Flat Bar e por que ele está ganhando espaço no gravel
2.1 Características do Flat Bar
O flat bar é o guidão reto típico das mountain bikes. Oferece:
- Uma posição única para as mãos (a menos que se use bar ends);
- Postura mais ereta e natural para o tronco e pescoço;
- Controle mais direto sobre a direção da bike.
2.2 Vantagens do flat bar no gravel
- Maior controle em terrenos técnicos e trilhas leves;
- Postura mais confortável para quem não tem flexibilidade lombar;
- Transição mais fácil para quem vem do MTB;
- Melhor visibilidade do trajeto por causa da posição mais vertical.
2.3 Desvantagens do flat bar
- Menos posições para mudar as mãos;
- Pior desempenho aerodinâmico em trechos longos no plano;
- Maior largura pode atrapalhar em trilhas fechadas ou trânsito urbano.
3 – Comparativo direto: Drop Bar vs Flat Bar na prática
| Aspecto | Drop Bar | Flat Bar |
|---|---|---|
| Controle em off-road | Médio | Excelente |
| Aerodinâmica | Alta | Baixa |
| Conforto em longas distâncias | Excelente (várias pegadas) | Bom (posição única) |
| Adaptação para iniciantes | Média (requer aprendizado) | Alta (fácil adaptação) |
| Bikepacking | Ótimo para bolsas frontais | Requer adaptação de espaço |
| Pilotagem em subidas | Muito boa (maior alavanca nos hoods) | Boa (mas pode exigir mais do tronco) |
| Estilo de pedal | Mais “racing” | Mais “explorador”, casual |
4 – Drop bar em diferentes configurações: flare, largura, reach e drop
Nem todo drop bar é igual. E isso impacta diretamente o conforto e o controle no gravel.
4.1 Flare: o segredo do controle no gravel
O flare é a abertura angular da parte inferior do guidão (os “drops”):
- Drop bars para estrada tradicional têm 0° a 4° de flare;
- Já guidões de gravel geralmente têm entre 12° e 24°.
Quanto maior o flare, mais estabilidade em descidas técnicas e melhor alavanca nas curvas em terreno solto.
Exemplos:
- Easton EC70 AX: 16° de flare — equilibrado entre estrada e gravel.
- PRO Discover Medium Flare: 12° — ótimo para uso misto.
- Spank Flare 25 Vibrocore: 25° — excelente para trilhas e bikepacking.
4.2 Largura do guidão
- Drop bars para estrada: 38–44 cm (no topo);
- Drop bars para gravel: 44–48 cm (no topo), podendo passar de 60 cm nos drops com muito flare.
Essa largura extra ajuda no controle, principalmente em velocidades mais baixas e descidas íngremes.
4.3 Reach e drop
- Reach é a distância da parte reta até as alavancas (hoods);
- Drop é a profundidade da curva.
Em gravel, busca-se reach curto e drop raso para facilitar a troca de posição sem prejudicar o controle.
5 – Personalizando o flat bar para gravel: bar ends, rise, backsweep
O flat bar também pode (e deve) ser ajustado ao gravel. Aqui estão as principais variáveis.
5.1 Rise: altura do guidão
- Rise zero ou baixo (0–15 mm) oferece posição mais agressiva;
- Rise alto (30 mm ou mais) proporciona postura mais ereta e conforto em longas distâncias.
Para gravel, o ideal é um rise médio (15–25 mm), balanceando controle e ergonomia.
5.2 Backsweep: ângulo de recuo
- Flat bars com backsweep entre 7° e 12° ajudam a alinhar punhos e aliviar pressão nas mãos;
- Evite backsweeps extremos (15° ou mais), que mudam muito a pilotagem.
5.3 Bar ends: mais posições, mais conforto
Como o flat bar oferece uma única posição para as mãos, os bar ends são ótimos para:
- Adicionar pegadas diferentes em trechos longos;
- Subir com mais alavanca e controle;
- Aliviar pressão nos punhos.
6 – Exemplo de uso: qual guidão em qual tipo de trilha?
6.1 Drop bar: ideal para…
- Pedais longos em cascalho leve e asfalto rural;
- Gravel racing com foco em velocidade e eficiência;
- Rotas com vento constante, onde a aerodinâmica faz diferença;
- Bikepacking leve, com bolsas frontais e carga equilibrada.
6.2 Flat bar: ideal para…
- Gravel técnico com trilhas batidas, raízes, areia, subidas fortes;
- Bikepacking pesado, com alforjes e mochila;
- Iniciantes no gravel, especialmente os que vêm do MTB;
- Pedais urbanos + off-road, onde controle é prioridade.
6.3 Exemplo real
Rota 1: 80 km de cascalho com asfalto intercalado e poucas subidas
Drop bar é mais indicado: você aproveitará a pegada múltipla, aerodinâmica e melhor eficiência.
Rota 2: 45 km de terra, com trechos técnicos e subidas fortes em estrada rural de roça
Flat bar é ideal: controle absoluto nas descidas e confiança para manobras em baixa velocidade.
O que considerar na escolha: corpo, terreno, objetivo e bagagem
7.1 Seu histórico como ciclista
- Vem do MTB? O flat bar será mais natural.
- Vem da speed? O drop bar parecerá familiar.
- É iniciante absoluto? Ambos funcionam, mas o flat pode oferecer adaptação mais intuitiva.
7.2 Seu tipo de corpo e mobilidade
- Se tem pouca flexibilidade no quadril ou lombar, prefira flat bar com postura ereta.
- Se já está adaptado a posições agressivas, o drop bar pode oferecer mais conforto a longo prazo.
7.3 Seu estilo de pedal
- Pedais de exploração, contemplação e autonomia combinam com flat bar.
- Pedais mais longos, mistos e de resistência favorecem drop bar.
- Se vai pedalar com carga pesada, o flat bar pode facilitar a pilotagem com estabilidade.
8 – Dá para trocar depois? Sim! Veja como adaptar sua gravel
Se você escolheu um tipo de guidão e depois percebeu que não era ideal para seu uso, a boa notícia é que a troca é possível — embora envolva alguns ajustes.
8.1 De drop para flat
- Substituir o guidão exige:
- Troca das manetes (freio e câmbio);
- Adaptação dos cabos e conduítes;
- Troca da mesa e, possivelmente, ajustes na geometria.
✅ Ideal se você está transformando uma bike de estrada em algo mais urbano/off-road.
8.2 De flat para drop
- Exige:
- Guidão drop;
- STI (manetes de freio+câmbio) compatíveis com o grupo;
- Cabos mais longos;
- Eventualmente, troca da mesa e avanço.
📌 Dica: Se você pretende manter versatilidade, algumas bikes gravel têm geometria que aceita ambos os estilos com pequenas adaptações. Consulte o fabricante do quadro.
Muito mais que estilo: o guidão define sua experiência de gravel
No gravel, cada escolha molda a experiência sobre a bike. O guidão, embora pareça apenas um detalhe, é um dos componentes que mais impacta sua relação com o pedal. Ele determina como você se posiciona, como controla a bicicleta, quanta confiança tem em terrenos soltos e até quanto prazer sente em pedais longos ou técnicos.
Não há certo ou errado. Há o que funciona para você. Drop bar e flat bar são ferramentas diferentes para ciclistas diferentes — e, às vezes, para usos diferentes de um mesmo ciclista. A mágica do gravel está justamente aí: em personalizar, experimentar, ajustar, errar e acertar até encontrar o ponto ideal entre desempenho, controle e diversão.
Seja você um explorador de rotas perdidas, um competidor de provas longas ou um cicloturista apaixonado por natureza e aventura, o guidão certo pode transformar sua gravel bike de uma simples máquina em uma extensão do seu corpo.
Então, experimente. Teste. Converse com outros ciclistas. Sinta o terreno sob os pneus. Porque no fim das contas, a melhor configuração é aquela que faz você querer pedalar cada vez mais.


Olá! Eu sou Otto Bianchi, um apaixonado por bicicletas e ciclista assíduo, sempre em busca de novas aventuras sobre duas rodas. Para mim, o ciclismo vai muito além de um esporte ou meio de transporte – é um estilo de vida. Gosto de explorar diferentes terrenos, testar novas bikes e acessórios, além de me aprofundar na mecânica e nas inovações do mundo do pedal. Aqui no site, compartilho minhas experiências, dicas e descobertas para ajudar você a aproveitar ao máximo cada pedalada. Seja bem-vindo e bora pedalar!






